O QUE TECNOLOGIA TEM COM "FASCISMO DEMOCRÁTICO" E O "FIM DAS PROFISSÕES"?
Da série: Li e recomendo o seguinte texto:
E agora o porque: Recebi uma mensagem de um amigo, com um vídeo onde um consultor falava sobre a crise das profissões, colocando na pauta – também os serviços de consultoria que queria vender – a crescente influência que a tecnologia digital tem exercido nas mais diversas profissões, como já há alguns anos – na verdade desde que me formei em 1993 – tem modificado a forma de produção e atuação da minha profissão que, até o momento, é de arquiteta urbanista. Ainda aqui vou falar desse \”até o momento\”. Mesmo que há tanto tempo já acompanhe e me atualize sobre as mudanças que a tecnologia tem imposto sobre a forma de produção, de criação e de manipulação de oportunidades de trabalho dentro da minha área, faz uns 4 ou 5 anos – antes da operação Lava à Jato – que percebi de maneira muito evidente algo que vivenciava, mas ainda não tinha nome. A forma como ainda entendemos e praticamos a arquitetura e o urbanismo está se esvaziando, afunilando, padronizando sentidos, formas, modelos e possibilidades de campos de atuação, pelo contexto político-econômico que agora começamos a compreender e discutir com alguma clareza e lucidez, mas que não é tão novo. Assim no que diz respeito a minha área de atuação, não vejo essa crise da profissão como uma questão focada nas novas tecnologias, que vamos perder nosso emprego, clientes, bicos e oportunidades para a tecnologia, para a inteligência artificial, para os robôs, para os aplicativos que montam ambientes e plantas e ainda mostram tudo em 3D ou realidade aumentada, etc. Não ainda, não em todo lugar ao mesmo tempo. O mundo ainda é muito heterogêneo. Nossa realidade brasileira é muito diversa e desigual, e no campo tecnológico não é diferente. Muitos arquitetos urbanistas espalhados pelo Brasil, atuam com os mais diversos níveis de acesso à tecnologia. A prancheta e a régua \”T\”, não foram banidas do mundo. Mais que isso, coexistem com as novas tecnologias. O que vejo, é cada vez mais, um mercado corporativo focado em grandes, médios e até pequenos projetos e obras, mas realizados de forma massificada – como na habitação popular. São trabalhos que abrangem escalas, etapas e especialidades diversas para sua produção e realização, mas todas estão cada vez mais centralizadas em poucas empresas e profissionais que pactuam com essa forma de atuação, dentro de uma tradição de corporativismo patriarcal, que tem, outro lado – dentro e fora desse tipo de produção – que é a radicalização da precariedade dos empregos e da prestação de serviços. Mas a precarização da profissão de arquiteto e de urbanista não é algo novo. Não chegará com as novas leis trabalhistas que institucionalizaram o emprego precário. É uma realidade que vivemos desde que me conheço como profissional desta área, e que não é exclusivo a ela, acho que todos sabemos disso. É nesse contexto que indico o texto acima de Alain Badiou, publicado na página \”Outras Palavras\”, pelo exercício de relações e contextualização que ele nos possibilita, ao analisar que: \”o nosso tempo é a tentativa de impor à humanidade (e isso à escala do próprio mundo) a convicção de que só há um caminho para a história dos seres humanos.\” (BADIOU, 2016). O que me fez lembrar desse texto de Badiou com relação a mensagem, que recebi, foi a seguinte frase: \”O que é um sujeito humano? É um negociante, um consumidor, um proprietário, ou não é nada. Esta é a definição estrita daquilo que é hoje um ser humano.\” Isso me fez pensar também que esse receio de ter seu campo de trabalho tomado por algum tipo de substituto, via tecnologia digital, essa insegurança, real e plausível, tem outro aspecto a ser pensado. Quantos de nós não está satisfeito com sua profissão ou com os rumos que ela tomou no mercado, não sentido a mais remota satisfação profissional e está trabalhando mecanicamente? Quantos de nós entrou em uma profissão mais pelas circunstâncias, aquelas que nos foram mais cômodas, que pela experiência de testar várias possibilidades para descobrir aquilo que gosta de fazer por horas sem sentir e por prazer, e de transformar ou encontrar nisso sua profissão ou suas profissões? Claro que muitos de nós, não teve condições – financeiras, intelectuais, familiares, etc. – de se dá a possibilidade de empreender essa jornada. Outros, com as condições que citamos, ainda assim, podem cair na mesma cilada da profissão errada, justamente pela pressão que essas condições podem fazer sobre sua expectativa de realização profissional, colocando-a em padrões de valores que não saberá ao certo se são seus ou não. Tudo isso passa por diversos questionamentos políticos sobre o rumo das coisas no nosso mundo, aos quais o Badiou dá uma boa forcinha. Boa Leitura!
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